quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Filosofia em tempo de terror - Diálogos com Habermas e Derrida - Giovanna Borradori

Porto Alegre, 08 de Agosto de 2012.

Olá!
O livro "Filosofia em tempo de terror" , traz diálogos com o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas e o filósofo francês Jacques Derrida, sobre terrorismo e fundamentalismo.
A filósofa italiana Giovanna Borradori fez entrevistas separadas com Habermas e Derrida, acerca destes temas, tão em voga nos dias atuais.
Abaixo reproduzo uma entrevista com Jacques Derrida sobre tolerância e hospitalidade.


O artigo “Tolerância” do Dictionnaire philosophique é um tour de force, uma espécie de fax para o século XVIII. Contém tamanha riqueza de exemplo históricos e análises, tantos axiomas e princípios, que exigem hoje reflexão, palavra por palavra. No entanto, essa mensagem, por sua vez, levanta muitas perguntas.
Teríamos de ser extremamente vigilantes, parece-me, ao interpretar essa herança. Eu ficaria tentado a dizer “sim e não” a cada frase, “sim mas não”, “sim, embora talvez”, prestando juramento sob uma forma que não é outra senão aquela dos apóstolos cristãos, dos discípulos, ou dos quacres: “Os apóstolos e os discípulos”, escreve Voltaire, “juravam por sim e não; os quacres não irão jurar de outra forma.” A palavra “tolerância” é antes de mais nada marcada por uma guerra religiosa entre cristãos, ou entre cristãos e não-cristãos. A tolerância é uma virtude cristã ou, por isso mesmo, uma virtude católica. O cristão deve tolerar o não-cristão, porém, ainda mais do que isso, o católico deve deixar o protestante existir.
Como hoje sentimos que as reivindicações religiosas estão no coração da violência (a senhora vai notar que continuo dizendo, de maneira deliberada e genérica, “violência”, para evitar as palavras equívocas e confusas “guerra” e “terrorismo”), recorremos a essa boa e velha palavra “tolerância”: que muçulmanos concordem em viver com judeus e cristãos, que judeus concordem em viver com muçulmanos, que os crentes concordem em tolerar os “infiéis” ou “descrentes” (pois esta é a palavra que “bin Laden” empregou para denunciar seus inimigos, em primeiro lugar os americanos). A paz seria assim a coabitação tolerante.
A tolerância é na verdade o oposto da hospitalidade. Ou pelo menos o seu limite. Se alguém acha que estou sendo hospitaleiro porque sou tolerante, é porque eu desejo limitar minha acolhida, reter o poder e manter o controle sobre os limites do meu “lar”, minha soberania, o meu “eu posso” (meu território, minha casa, minha língua, minha cultura, minha religião etc.). Em acréscimo ao significado religioso de cuja origem acabamos de lembrar, deveríamos também mencionar as conotações biológicas, genéticas ou organicistas. Na França, a expressão “limite da tolerância” era usada para descrever o limiar além do qual não é mais decente pedir a uma comunidade nacional que acolha outros estrangeiros, trabalhadores imigrantes e gente parecida. François Mitterand certa vez certa vez usou essa expressão infeliz como uma palavra autojustificativa de cautela: além de um certo número de estrangeiros ou imigrantes que não compartilha a nossa nacionalidade, a nossa língua, a nossa cultura e os nossos costumes, pode-se esperar um fenômeno natural de rejeição. Eu condenei, na época, em um artigo no jornal Libération, essa retórica organicista e a política “naturalista” que ela tentava justificar. É verdade que Mitterand depois desculpou-se dessa linguagem que ele mesmo considerou infeliz. Mas a palavra “tolerância” colidiu ali contra o seu limite: nós aceitamos o estrangeiro, o outro, o corpo estranho até um certo ponto, e desse modo com restrições. A tolerância é uma hospitalidade condicional, circunspecta, cautelosa.
Um abraço,

Carlos Paredes

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Preconceito racial e racismo institucional no Brasil por Le Monde Diplomatique Brasil

A FAXINA ÉTNICA
Preconceito racial e racismo institucional no Brasil




(Afrodescendentes protestam contra o baixo número de negros na Fashion Rio Verão 2012/2013)
Porto Alegre, 03 de Agosto de 2012.

Olá!
É fato que preconceito racial existe no Brasil, e que divide opiniões acerca do assunto, há aqueles que explicitamente colocam o preconceito de forma clara, outros porém o tratam de maneira velada, de uma maneira ou de outra os negros ainda são vistos e tratados como a "raça" inferior, por uma grande parte da população brasileira.

Atualmente no Brasil há a "polêmica" sobre as cotas nas universidades públicas, alguns defendem que as tais cotas inferiorizam o negro e cria desvantagens para o branco na aquisição de uma vaga em uma instituição de ensino superior pública.
Acredito que as cotas representam uma reparação histórica. Há pouco mais de um século foi concedida a carta de auforia aos escravos do Brasil, porém a liberdade lhes foi concedida sem que tivessem o minímo de condições asseguradas pelo Estado, para que pudessem ter uma vida digna.

Reproduzo abaixo o artigo "A faxina étnica - Preconceito racial e racismo institucional no Brasil" do jornal Le Monde Diplomatique Brasil Edição Julho/2012.


"No Brasil, os negros sofrem não só a discriminação racial devida ao preconceito racial e operada no plano privado, mas também e sobretudo o racismo institucional, que inspira as políticas estatais que lhes são dirigidas e se materializa nelas"
por Márcia Pereira Leite
“Na primeira vez em que estive aqui, em 1987, fiquei chocado ao ver que na TV, em revistas, não havia negros. Melhorou um pouco. Mas há muito a fazer. Quem nunca veio ao Brasil e vê a TV brasileira via satélite vai pensar que todos os brasileiros são loiros de olhos azuis.” (Spike Lee)1

"O comentário do cineasta norte-americano Spike Lee, em recente visita ao Brasil para filmagem do documentário Go Brazil Go, no mesmo período em que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava a constitucionalidade das cotas raciais em universidades públicas, despertou várias discussões na imprensa e nas redes sociais sobre o racismo na sociedade brasileira. 
Desses debates, é possível depreender quanto ainda persiste do mito de que o Brasil seria uma “democracia racial” em que, a despeito do preconceito, não haveria nem o ódio nem a segregação que caracterizaram o regime do apartheid. Nosso racismo combinaria o preconceito de cor e o preconceito de classe, diluindo-se no caso de negros educados e bem-sucedidos e implodindo no samba, no carnaval, enfim, na cultura popular brasileira.
Queremos chamar a atenção para o que ficou ausente nesse (e em outros) debate sobre o racismo no Brasil: os mecanismos de discriminação produzidos e operados pelas estruturas e instituições públicas e privadas que os reproduzem e os fortalecem. Nesta reflexão, propomos seguir o giro da ciência social, nos anos 1960, em sua análise das relações raciais: 
""Abandonar os esquemas interpretativos que tomam as desigualdades raciais como produtos de ações (discriminações) inspiradas por atitudes (preconceitos) individuais, para fixar-se no esquema interpretativo que ficou conhecido como racismo institucional, ou seja, na proposição de que há mecanismos de discriminação inscritos na operação do sistema social e que funcionam, até certo ponto, à revelia dos indivíduos"".2
O racismo constitui, como se sabe, um mecanismo fundamental de poder utilizado historicamente para separar e dominar classes, raças, povos e etnias. Seu desenvolvimento moderno se deu com a colonização, com o genocídio colonizador. O racismo é, como disse Foucault, ""o meio de introduzir [...] um corte entre o que deve viver e o que deve morrer"". 
""No contínuo biológico da espécie humana, o aparecimento das raças, a distinção das raças, a hierarquia das raças, a qualificação das raças como boas e de outras, ao contrário, como inferiores, tudo isso vai ser uma maneira de fragmentar esse campo do biológico de que o poder se incumbiu; uma maneira de defasar, no interior da população, uns grupos em relação aos outros. [...] o racismo faz justamente funcionar, faz atuar essa relação de tipo guerreiro − ‘se você quer viver, é preciso que o outro morra’ − de uma maneira que é inteiramente nova e que, precisamente, é compatível com o exercício do biopoder.""3
Para o autor, ""a especificidade do racismo moderno, o que faz sua especificidade, não está ligada a mentalidades, a ideologias, a mentiras do poder. Está ligada à técnica do poder, à tecnologia do poder"",4  isto é, ao biopoder enquanto um poder (estatal) de regulamentação que se exerce sobre populações e consiste em ""fazer viver e deixar morrer"".

Racismo institucional no Brasil
"O argumento central deste artigo consiste em que, no Brasil, negros sofrem não só a discriminação racial devida ao preconceito racial e operada no plano privado, mas também e sobretudo o racismo institucional, que inspira as políticas estatais que lhes são dirigidas e se materializa nelas. Trata-se de discriminação racial praticada pelo Estado ao atuar de forma diferenciada em relação a esses segmentos populacionais, introduzindo em nossas cidades e em nossa sociedade, pela via das políticas públicas, “um corte entre o que deve viver e o que deve morrer”, a faxina étnica.
A expressão, utilizada para evidenciar as relações entre o racismo e as políticas estatais para territórios e populações negras no Brasil, não é mera retórica. Antes, sustenta que as elevadas taxas de homicídio e de ""autos de resistência""5 nos territórios de maioria negra, as políticas de remoção e de despejo de sua população, os altos índices de encarceramento de negros pobres, a precariedade das políticas públicas de habitação, saúde e educação para o conjunto da população negra e o desrespeito a suas tradições culturais e religiosas não são sucessivos produtos do acaso ou do mau funcionamento do Estado,6 mas traduzem o racismo institucional que opera no Brasil bem ao largo de qualquer perspectiva de integração social e urbana desses segmentos populacionais pela via da cidadania.
Esse modo específico de gestão estatal das populações negras e de seus territórios de moradia − que ""faz viver e deixa morrer"", como diz Foucault − pode ser identificado no âmbito das políticas públicas praticadas pelo Estado brasileiro. Examinemos alguns dados empíricos que expressam o sentido e o escopo de sua formulação e de sua realização.
Os negros são as maiores vítimas de homicídio. No período de 2002 a 2008, segundo dados do Mapa da violência 2011,7 o número de vítimas brancas na população brasileira diminuiu 22,3%; já entre os negros, o número de vítimas de homicídio aumentou 20,2%. Os dados são mais dramáticos quando se consideram os jovens: o número de homicídios de jovens brancos caiu, no período, 30%, enquanto o de jovens negros cresceu 13%, o que significa que a brecha de mortalidade entre brancos e negros cresceu 43%. Se considerarmos os homicídios praticados pelas forças policiais e registrados/encobertos pelos ""autos de resistência"", vemos que eles também vitimam mais intensamente os negros: de 2001 a 2007, incidiram sobre esse segmento 61,7% dos homicídios praticados por agentes do Estado.8 Não se trata simplesmente de abuso policial ou de despreparo de policiais em situações de confronto. A consistência dos dados e sua persistência no período, em que pese a redução desses homicídios nos últimos anos em algumas grandes cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo,9 indicam uma política de extermínio de negros (jovens, sobretudo) − o ""fazer morrer"" − praticada pelo Estado, por meio de seus agentes, ou por ele tolerada.10
Mas, como vimos, a tecnologia do poder também ""faz viver"", ainda que em distintas condições para esses diferentes segmentos populacionais, brancos e negros. É o que demonstra uma pesquisa realizada em 2003 pelo Ministério da Saúde,11 que revelou indicadores de saúde diferenciados da população brasileira segundo o critério raça/cor. 
Analisando seus resultados, Meireles12 destaca que 62% das mulheres brancas ouvidas realizaram sete ou mais consultas de pré-natal, enquanto somente 37% das mulheres negras passaram pelo mesmo número de consultas. Talvez por isso a hipertensão arterial durante a gravidez, uma das principais causas de morte materna, tenha sido mais frequente entre as mulheres negras. Além disso, o risco de uma criança negra morrer antes de completar 5 anos por causas infecciosas e parasitárias é 60% maior do que o risco de uma criança branca falecer pela mesma razão, enquanto o risco de morte por desnutrição é 90% maior entre crianças negras do que entre as brancas.
Já os dados do Relatório anual das desigualdades raciais no Brasil; 2009-2010 demonstram que os negros representam cerca de 60% daqueles que, por motivos diversos, não conseguem atendimento no SUS, sendo os maiores percentuais os relativos às mulheres negras − o que, sem dúvida, argumenta o autor, evidencia a precariedade do dispositivo constitucional que assegura a universalidade do direito à saúde no país.
No plano da educação, todas as pesquisas apontam que, ainda que o acesso tenha crescido no país nos últimos anos, a presença dos negros no ensino médio, universitário e na pós-graduação permanece significativamente menor do que a dos brancos – diferença que se torna exponencial nos níveis superiores de formação. A razão, ressaltam, é clara: enquanto os brancos recorrem a escolas particulares (sabidamente, no Brasil, de melhor qualidade) no ensino fundamental e médio e, assim, obtêm melhor formação intelectual para ingresso nas universidades públicas, aos negros restam as escolas públicas (crescentemente sucateadas) nos níveis fundamental e médio e o caminho das universidades privadas. Mesmo com essa estratégia, também no campo da educação as desigualdades raciais são gritantes: em 2008, a probabilidade de um jovem branco, de 18 a 24 anos, frequentar uma instituição de ensino superior era 97,8% maior do que a de uma jovem negra da mesma faixa etária.13
No plano da moradia, os indicadores sociais revelam a mesma diferenciação no interior das políticas públicas, ou como o Estado ""faz viver"" esses contingentes populacionais. Os territórios de maioria negra nas cidades (favelas, loteamentos, bairros pobres e periferias) são carentes de equipamentos urbanos e serviços públicos de boa qualidade. O déficit habitacional brasileiro (cerca de 5,5 milhões de unidades) é fruto da ausência de uma política estatal de habitação popular, o que resultou na precariedade que caracteriza as atuais condições de moradia e vida nessas localidades.14
Além disso, em várias de nossas grandes cidades que vêm sendo reestruturadas para favorecer a especulação imobiliária e/ou sediar “grandes eventos” e assim se inserir nos fluxos internacionais de acumulação urbana, essas populações têm sido compulsoriamente removidas das localidades em que sempre viveram, criaram seus laços de vizinhança e parentesco, suas alternativas de sobrevivência (em trabalhos formais, pequenos comércios ou “virações”).15 São, então, reassentadas em locais distantes, ambientalmente precários,16 com infraestrutura urbana de má qualidade, sem redes de sociabilidade nem alternativas de trabalho; enfim, sem lugar na sociedade, sem direito à cidade.

Muito além do preconceito
Os dados analisados e as situações descritas revelam quanto as desigualdades sociais têm cor e estão profundamente enraizadas no racismo institucional que estrutura a sociedade brasileira e se materializa por meio das políticas praticadas pelo Estado, em todos os seus níveis. O que queremos sublinhar ao discuti-los é que, no Brasil, as desigualdades sociais se somam e são elevadas pelas desigualdades raciais. Mais do que isso: as desigualdades raciais estão no cerne do modo de gestão estatal dos territórios de maioria negra e desta população.
Trata-se de um novo modo de gestão estatal de territórios e de populações, que dispensa os tradicionais discursos e práticas de integração à sociedade nacional pela via da cidadania (da educação, do trabalho e dos direitos) por entender que essas populações são desnecessárias ao atual desenvolvimento do capitalismo.
Vivemos, hoje, uma mudança no eixo da atuação do Estado, cujo sentido passou a ser – simplesmente – evitar que essas populações negras, pobres e moradoras em territórios de favelas, loteamentos, bairros pobres e periferias produzam problemas para a ordem social. Suas estratégias combinam, desde então, diferentes políticas e mecanismos de controle social repressivo (até o ""deixar morrer"") com políticas de mera inserção17/mínima sobrevivência (o ""fazer viver""), travestidas, no plano discursivo, de integração à cidadania e à sociedade.
No primeiro caso, especialmente nas situações em que a criminalização da pobreza tem sido mais eficiente, o Estado atua promovendo ou acobertando a segregação socioespacial e as políticas de extermínio e de encarceramento, sobretudo de jovens negros. No segundo, atuando nos territórios de maioria negra, o Estado oferece a essas populações uma ilusão de integração por meio de políticas públicas que há muito abandonaram os princípios da universalidade e da justiça (são pontuais, descontinuadas; os serviços e equipamentos que criam são de má qualidade) ou patrocinando projetos sociais realizados por organizações não governamentais que seguem a mesma lógica, além de criminalizar sua clientela, entendida como ""população vulnerável ao crime"". Em ambos os casos, o racismo institucional soma-se às desigualdades sociais, raciais e urbanas que historicamente estruturaram nosso país, aprofundando-as e revelando que estamos muito longe da ""diluição"" dessas desigualdades e da possibilidade de uma efetiva integração social e urbana dos negros pobres na sociedade brasileira."

Márcia Pereira Leite
Professora associada da Uerj, pesquisadora do CNPq, membro do Círculo Palmarino/Rio de Janeiro e do Conselho Deliberativo da Fase


Ilustração: Ricardo Moraes / Reuters

1 Fonte: .
2 Valter Silvério, “O multiculturalismo e o reconhecimento: mito e metáfora”, Revista USP, n.42, jun./ago. 1999, p.156.
3 Michel Foucault, Em defesa da sociedade, Martins Fontes, São Paulo, 2002, p.304-5.
4 Idem, p.309.
5 Registro de ocorrência policial, em atividade de policiamento ou mesmo na folga do agente policial, como resistência armada à prisão seguida de morte. Trata-se de um homicídio que não é registrado como tal, por exclusão de ilicitude por parte de seu autor. Nesse registro, a vítima é qualificada como criminosa (usualmente, como traficante de drogas); a morte, como decorrente de atividade legal da polícia; e seu autor, o policial, como vítima de tentativa de homicídio.
6 Cf. “Manifesto contra a faxina étnica”, divulgado no Fórum Social Urbano, no Rio de Janeiro, em março de 2010. Disponível em: .
7 Mapa da violência 2011, Instituto Sangari e Ministério da Justiça.
8 Marcelo Paixão et al. (orgs.), Relatório anual das desigualdades raciais no Brasil; 2009-2010, Laeser/Garamond, Rio de Janeiro, 2011.
9 Esta se deve a situações bastante específicas, que, por razões de foco e espaço, não temos condições de discutir aqui.
10 Cf. Sylvia Amanda da Silva Leandro, O que matar (não) quer dizer nas práticas e discursos da justiça criminal: o tratamento judiciário dos “homicídios por auto de resistência” no Rio de Janeiro, dissertação de mestrado, PPGD/UFRJ, 2012.
11 Ministério da Saúde, Programa estratégico de ações afirmativas: população negra e aids, Brasília, 2006.
12 Iná Meireles, Saúde da população negra: um histórico de vitórias e uma realidade que exige muita luta contra a faxina étnica, mimeo, 2011.
13 Marcelo Paixão et al (orgs.), op. cit.
14 Cf. Kazuo Nakano, “A produção social de vulnerabilidade urbana”, Le Monde Diplomatique Brasil, abr. 2011.
15 Para a análise do processo de reestruturação e mercantilização de nossas grandes cidades enquanto produção de novas fronteiras urbanas para a expansão da acumulação, cf. Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro e Orlando Alves Santos Junior, “Desafios da questão urbana”, Le Monde Diplomatique Brasil, abr. 2011.
16 Piramba examina esse processo enquanto expressão de racismo ambiental, isto é, das “injustiças sociais e ambientais [que] atingem etnias e populações vulneráveis”. Cf. Paulo Piramba, Anotações sobre o racismo ambiental, mimeo, 2011, p.1.
17 Ver, para a distinção entre integração social e inserção social, no sentido apontado aqui, Robert Castel, As metamorfoses da questão social, Vozes, Petrópolis, 1998.

Um abraço,
Carlos Paredes

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

AIDS - um engano contagioso? Jochen F. Uebel e Christoph Pfluger

Porto Alegre, 01 de Agosto de 2012.

Olá!
Dias atrás conheci uma pessoa muito querida (a identidade vai se preservada aqui, pois esta pessoa já sofreu várias retalhações, devido ao seu conhecimento sobre o HIV/AIDS).
Ela trabalha na área da saúde e têm contribuido para desconstruir os tabus, pré conceitos e informações que são dissemidas todos os dias, em todos os cantos do planeta, a fim de continuar enganando as pessoas sobre o HIV/AIDS.
A partir de conversas que tivemos, através de informações obtidas, verdades que eu pensava serem absolutas foram aos poucos sendo descontruídas. 
Esse profissional gentilmente cedeu-me um material de grande valor, pois o exemplar é bastante raro, que tem aberto minha mente para o assunto, intitulado AIDS - Invenção de uma nova doença? - com vários artigos, de renomados cientistas e organizado por Hildegard Bromberg Richter. 
Este material pode apresentar algumas desatualizações, devido a sua data de publicação da 2ª edição em 1999.

Para mais informações no Brasil

TAPS, Temas Atuais na Promoção da Saúde
Caixa Postal 20396, CEP 04041-990, São Paulo, SP
Tel.: (011) 572 0466 Fax: (011) 572 0465
E-mail: taps@tsp.com.br
Quero compartilhar com vocês um dos textos, pois penso ser de importância a todos que se interessam pelo assunto.



AIDS - um engano contagioso?

Jochen F. Uebel e Christoph Pfluger

As vozes de cientistas que levantam sérias dúvidas quanto ao "conhecimento assegurado" de eminentes pesquisadores da AIDS estão se multiplicando: O sofrimento que o portador do HIV e o doente de AIDS enfrentam em sua vida particular, na família e no trabalho corresponde à verdade sobre a AIDS?
Alguns cientistas afirmam com convicção que a AIDS tem uma única causa: um vírus que destrói determinados glóbulos brancos de sangue, com os quais o corpo humano se defende do vírus e bactérias, o vírus da imunodeficiência humana (Human Immunedeficiency Virus, HIV). Robert C. Gallo, do Instituto Nacional do Câncer em Bethesda, Maryland, EUA, e seu adversário, Luc Montagnier*, do Instituto Pasteur de Paris, são considerados os "descobridores" do suposto vírus da "AIDS". Gallo teria utilizado uma prova do vírus, recebido de Montagnier, como sendo "seu" vírus. A disputa foi resolvida em nível de Estado. Em março de 1987, o então presidente norte-americano Ronald Reagan e o primeiro-ministro francês Jacques Chirac assinaram um acordo em Washington, que não esclarecia todas as dúvidas entre franceses e americanos a respeito da descoberta do vírus e sobre a patente dos exames de anticorpos, mas "regulamentava da melhor maneira os problemas econômicos e a divisão dos lucros comerciais provenientes da presumida 'descoberta." (Deutsches Ärzteblatt)
Desde então,  foram feitos centenas de milhões de exames de AIDS no mundo - alguns mais baratos, outros mais caros. Os descobridores do vírus ganham bastante com isso, pois os exames são realizados com ajuda de um soro patenteado por Gallo e Montagnier, obtido sob licença. Já em 1985, quando ainda poucos exames foram vendidos, a renda decorrente do licenciamento dos exames foi estimada em milhões de dólares.
Sem a tese do vírus da AIDS, um exame de AIDS, destinado a descobrir os rastros de um vírus, não teria sentido: ele seria invendável...
 Venenos e modo de vida enfraquecem a imunidade
Outros cientistas afirmam que o sistema imunológico não é destruído por um vírus, mas por fatores bem diferentes: pelo consumo de drogas e pelo abuso de estimulantes de todo tipo (do álcool e da nicotina, até a cafeína), pela má alimentação, falta de exercícios, stress e atitudes negativas; pelo abuso de medicamentos e terapias médicas complexas; pela perturbação constante do ritmo natural decorrente de sono irregular e escasso; pela crescente poluição ambiental por tóxicos e radiação de todo tipo. E por um "estilo" de relacionamento sexual mecânico, sem afeto, que funciona segundo o lema "o próximo, por favor".
Tese do vírus, improvável
Um dos críticos mais importantes da tese do vírus é o virólogo alemão Peter Duesberg, professor titular da Cadeira de Microbiologia da Universidade da Califórnia. Duesberg não pode ser desqualificado como Zé Ninguémm científico, pois é profundo conhecedor do retrovírus. É membro da Academia de Ciências dos Estados Unidos, uma entidade exclusiva da qual cada quinto membro ganhou o Prêmio Nobel. Ele pertence, portanto, à nata da ciência norte-americana.
Na revista Cancer Research  de março de 1987, ele publicou um extenso estudo afirmando que - do ponto de vista virológico - não é apenas improvável, mas impossível responsabilizar o HIV pela perigosa diminuição de determinados glóbulos brancos no paciente com AIDS. Em cada dez pacientes de AIDS, um não apresenta nenhum traço do HIV. A seguir, ele apresenta seus argumentos mais importantes contra a tese do vírus. Até hoje não foram contestados, mas são ignorados pelos adeptos do vírus.
Nenhum retrovírus (um vírus que transfere sua informação genética para a célula que o hospeda) mata a célula hospedeira, pois é apenas com sua ajuda que ele pode pode se reproduzir! Na realidade, o HIV até hoje só foi encontrado em células mortas - e inativo!
A percentagem de portadores do HIV que desenvolve a doença é extremamente variável segundo a região geográfica e o comportamento de risco. No Zaire, onde 10% da população é portadora soropositiva, adoecem anualmente 0,004%. Nos Estados Unifos, adoecem 1,5% dos homossexuais soropositivos. Portanto deve haver outros fatores que levam à doença.
Mesmo no estágio final da AIDS, o vírus HIV ataca apenas uma fração (1 em 10.000 a 1 em 100.000) dos glóbulos brancos. Essa taxa é muitas vezes compensada pela velocidade de multiplicação desses glóbulos. Como pode o vírus ser responsabilizado pela morte de todos glóbulos brancos?
Doenças virais seguem sempre três etapas: infecção, doença, imunidade. Primeiro o vírus se multiplica, porque o organismo não o conhece. Depois, o corpo mobiliza suas defesas e a "doença" aparece como sinal externo disso. Por fim, quando cessam os sintomas, o corpo está "imune" e pelo resto da vida encontramos anticorpos no sangue.
No caso da AIDS dizem que tudo é diferente: o organismo é contaminado pelo HIV e mobiliza suas defesas sem mostrar os sintomas de AIDS, sem adoecer. Depois - quando, do ponto de vista virológico, o corpo já está imune e possui grande quantidade de anticorpos contra o HIV - somente então ele adoece repentina e gravemente, após misterioso espaço de tempo cada vez mais longo (ontem diziam cinco, hoje quinze anos). Não é de admirar, portanto:
  • que, mesmo em  pacientes de AIDS, o teste HIV só é positivo em apenas 90% dos casos. Cada décimo paciente de AIDS não apresenta nenhum vestígio do vírus;
  • que, para a metade de todos os pacientes de AIDS, o suposto vírus não pode ser detectado diretamente;
  • que, para a esmagadora maioria dos casos, nunca pode ser detectada forma preliminar do vírus;
  • que um exame HIV positivo pode tornar-se negativo com o passar do tempo. 
* L. Montagnier atualmente afirma que o HIV não pode ser a única causa da AIDS. Veja p. 65

"Se uma mentira é repetida inúmeras vezes, acaba sendo aceita como verdade." 
Orwell

Um abraço,

Carlos Paredes

terça-feira, 31 de julho de 2012

O modo de navegação social: a malandragem e o "jeitinho" Roberto DaMatta

Porto Alegre, 31 de Julho de 2012.

Olá!
Hoje trago um texto escrito na década de 80, pelo antropólogo brasileiro Roberto DaMatta
Ele faz uma reflexão do Brasil e o "jeitinho" de ser do brasileiro, este mecanismo utilizado por nós em nossas relações cotidianas, com o objetivo de obter vantangem e descumprir a lei.
Abaixo reproduzo trechos do capítulo 7 "O modo de navegação social: a malandragem e o "jeitinho"" do seu livro, intitulado "O que faz o Brasil, Brasil?"


 "Entre a desordem carnavalesca, que permite e estimula o excesso, e a ordem, que requer a continência e a disciplina pela obediência estrita às leis, como é que nós, brasileiros, ficamos? Qual a nossa relação e a nossa atitude para com e diante de uma lei universal que teoricamente deve valer para todos? Como procedemos diante da norma geral, se fomos criados numa casa onde, desde a mais tenra idade, aprendemos que há sempre um modo de satisfazer nossas vontades e desejos, mesmo que isso vá de encontro às normas do bom senso e da coletividade em geral?
Num livro que escrevi - Carnavais, malandros e heróis -, lancei  a tese de que o dilema brasileiro residia numa trágica oscilação entre um esqueleto nacional feito de leis universais cujo sujeito era o indivíduo e situações onde cada qual se salvava e se despachava como podia, utilizando para isso o seu sistema de relações pessoais. Haveria assim, nessa colocação, um verdadeiro combate entre leis que devem valer para todos e relações que evidentemente só podem funcionar para quem as tem.
O resultado é um sistema social dividido e até mesmo equilibrado entre duas unidades sociais básicas: o indivíduo (o sujeito das leis universais que modernizam a sociedade) e a pessoa (o sujeito das relações sociais, que conduz ao pólo tradicional do sistema). Entre os dois, o coração dos brasileiros balança. E no meio dos dois, a malandragem, o "jeitinho" e o famoso e antipático "sabe com quem está falando?" seriam modos de enfrentar essas contradições e paradoxos de modo tipicamente brasileiro. Ou seja: fazendo uma mediação também pessoal entre a lei, a situação onde ela deveria aplicar-se e as pessoas nela implicadas, de tal sorte que nada se modifique, apenas ficando a lei um pouco desmoralizada - mas, como ela é insensível e não é gente como nós, todo mundo fica, como se diz, numa boa, e a vida retorna ao seu normal..."
Um abraço,

Carlos Paredes

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Os Bosquímanos

Porto Alegre, 30 de Julho de 2012.

Olá!
Certo dia assisti ao filme “Os Deuses Devem Estar Loucos”, lançado em 1980. O filme falava sobre uma tribo, que habita o deserto Kalahari, no continente africano. Este povo é o que mais se aproxima dos primeiros Homo Sapiens, sendo um povo muito antigo. 
O que mais me chamou atenção foi sua organização social. 
A partir da pesquisa que fiz, descobri que: As sociedades bosquímanas não têm leis, polícias, juízes, patrões nem chefes hereditários. Os indivíduos influentes destacam-se pelas habilidades ou pelo poder de persuasão.


  Os bosquímanos do deserto Kalahari

O Kalahari possui vasta área coberta por areia avermelhada sem afloramento de água em caráter permanente. Porém, o Kalahari não é um deserto verdadeiro. Partes dele recebem mais de 250 mm de chuva mal distribuída anualmente e possuem bastante vegetação. É realmente árido somente no sudoeste (menos de 175 mm de chuva ao ano), fazendo do Kalahari um deserto de fósseis. As temperaturas no verão do Kalahari vão de 20 a 40°C. No inverno, o Kalahari tem um clima seco e frio com geada à noite. As baixas temperaturas do inverno podem ficar abaixo de 0°C. O clima no verão em algumas regiões do Kalahari pode alcançar 50°C (por isso algumas tribos bosquímanas se recolhem nos momentos mais quentes do dia).    
Os bosquímanos são aproximadamente 100 mil. Eles são o povo mais antigo da África Austral, mas são vítimas do racismo das populações negras e brancas locais. Sobrevivem com pouca água. Encontram-na nos tubérculos, nas gotas de orvalho, na fruta. Também enterram ovos de avestruz cheios de água na estação das chuvas para a usar na estação seca. Eles cultivam pequenas hortas ou fazem trabalhos mal pagos em propriedades de brancos. Os que vivem nos subúrbios das cidades sofrem o desemprego, a exploração e o alcoolismo. Muitos abandonaram a própria língua e perderam o sentido para a vida. Eles são um povo de caçadores e coletores nômades. O corpo dos bosquímanos adaptou-se ao deserto. Eles têm grandes pálpebras que os protegem da luz solar. A sua pele alaranjada reflete o calor e, como é ligeiramente enrugada e não tem pêlos, suporta as altas temperaturas. O corpo armazena gordura nas nádegas para as épocas de escassez de alimentos. As veias aquecem o corpo no inverno.
Os antropólogos classificam os bosquímanos como fósseis vivos. O estudo do seu ADN indica que são próximos dos primeiros Homo sapiens. Há quem pense que o seu idioma seja a origem das línguas do mundo. Ele faz parte dos idiomas com clicks e consiste em sons com diferentes estalidos da língua. Não têm registros escritos. Há apenas pinturas rupestres de antílopes, elefantes, dançarinos e caçadores, com mais de 3000 anos.

Organização social

Os bosquímanos vivem em núcleos de 20 a 100 indivíduos. No verão agrupam-se onde há água. Dispersam-se na época das chuvas. É a mulher que decide quando e como se devem mover os acampamentos. Cada família trata da própria comida. As mulheres recolhem frutas, raízes, insetos e animais pequenos, como formigas, gafanhotos, lagartos, tartarugas e sapos. Providenciam a lenha para o fogo. Os homens são caçadores. Usam o arco e a flecha, varas e armadilhas. Depois de atingir o animal, pedem-lhe desculpa. Explicam-lhe que as suas famílias precisam de carne. Se perseguem um animal ferido em territórios vizinhos, devem visitar quem lá vive e partilhar com eles da caça. Aproveitam tudo do animal: comem a carne e bebem o sangue. Com a pele fazem a roupa. Com os ossos constroem flechas e lanças. As sociedades bosquímanas não têm leis, polícias, juízes, patrões nem chefes hereditários. Os indivíduos influentes destacam-se pelas habilidades ou pelo poder de persuasão. A regra principal é a solidariedade. Todos cuidam das crianças, dos idosos e dos doentes. Os conflitos resolvem-se com um torneio de anedotas. Se não for suficiente, passa-se a uma luta ou dança ritual. É raro recorrerem às armas. Apreciam a música, o canto e as danças rituais e de diversão. A dança do fogo e a do antílope são as mais espetaculares. Enterram os mortos em posição fetal. Deixam junto do cadáver os bens dele. Permanecem longe da sepultura durante um ou dois anos.

A família

As mães combinam os casamentos quando os filhos ainda são crianças. A mãe da noiva é que decide se o noivo é apropriado. Este vai morar na casa da família dela para provar as suas aptidões; sobretudo que é bom caçador. Enquanto o compromisso durar, as famílias trocam presentes. A partir do casamento, o casal passa a viver com a família dele. A mulher que não quiser permanecer com o marido pode regressar a casa dos pais e casar de novo.
O primeiro filho nasce quando a jovem faz 20 anos. Os seguintes nascem de quatro em quatro anos. Como não têm gado doméstico de onde tirar leite, a mãe amamenta os filhos até aos dois ou três anos.

Religião

A divindade suprema dos Bosquímanos é Gamab, deus do céu e do destino. Ele dispara flechas contra os mortais, tirando-lhes a vida. Tsui’goab é o deus da magia, da chuva e do trovão. Gunab é um deus maligno.
O culto é dirigido pelos xamãs curandeiros. Eles crêem que os antepassados provocam as doenças, para que os vivos os acompanhem na outra vida. 

Um abraço,
Carlos Paredes

Sociedade de Consumidores


Porto Alegre, 30 de Julho de 2012.

Olá!
Trago um texto produzido por mim, em sala de aula, sobre a sociedade de consumidores, através do livro de Bauman, intitulado "Vida para Consumo"
Neste pequeno trabalho faço uma reflexão sobre a transformação do indivíduo em mercadoria, sobre a diferença entre o indivíduo enquanto consumidor e produtor. 
Além, da vida exaustiva e monótoma a qual o trabalhador, pertencente a sociedade de produtores, que sustenta essa estrutura produtiva é submetido.




Vida para Consumo
A transformação das pessoas em mercadorias

Zygmunt Bauman

Sociedade de consumidores

A cultura consumista se dá através de uma sociedade moderna de produtores, que gradualmente foi se transformando numa sociedade de consumidores. Nesse processo de organização social, os indivíduos se tornam ao mesmo tempo agentes e também suas mercadorias. A sociedade de consumidores tem por objetivo abraçar a cultura consumista, ceder ao seu apelo, que é feito de maneira constante, atingindo classes e faixas etárias distintas. Esta sociedade, encoraja e reforça a escolha de um estilo de vida focado no consumo, em que o espírito toda a vida do indivíduo, desde a sua infância é “treinado” de maneira individual, ajustando este comportamento para “viver” em seu habitat natural, que nesta lógica é caracterizado pelos shoppings centers local onde as mercadorias, os desejos pessoais de cada pessoa pode ser encontrado. Suas necessidades serão satisfeitas, estes espaços existem com esta finalidade.
             
O ser consumista está baseado numa vocação, em desempenhos individuais. O mercado o bombardeia de todos os lados oferecendo inúmeras sugestões, a fim de que este se equipe com os produtos oferecidos para manter uma posição social e garantir a auto-estima, disto dependem a maneira como ele vai se colocar nesta sociedade consumista, de maneira eficiente ou deficiente. O ser eficiente neste tipo de sociedade é aquele que está apto, que é capaz de consumir na escala que este mercado produz, o que atende ao apelo, que dispõe de recursos financeiros. O ineficiente, ou como Bauman coloca são os “consumidores falhos”, ou seja aqueles que estão excluídos, porque não atendem aos requisitos básicos para este mercado, aqueles que não possuem situação financeira capaz de lhes garantir um lugar neste sistema.
             
Para que a sociedade de consumidores se mantenha é necessário que haja trabalhadores capazes de suprir esta demanda, daí temos a sociedade de produtores.  Esta sociedade é composta de trabalhadores que precisam estar em conformidade com regras, obedecer às ordens, sua postura deve ser de total submissão, sem que este indivíduo faça questionamentos. Ele deve se submeter a uma rotina pesada e monótoma de trabalho. Como foi colocado pelo autor, na sociedade de consumidores o que é levado em conta é o espírito, enquanto que na sociedade de produtores é o corpo este é o potencial do trabalhador. Aqui suas emoções, ou seja, seu espírito, deve ser silenciado. O habitat natural deste trabalhador é o chão de fábrica, que pode ser entendido como campo de batalha.

Um abraço,

Carlos Paredes  

Determinismo biológico e Determinismo geográfico

Porto Alegre, 30 de Julho de 2012.

Olá!
Anteriormente este espaço estava destinado a moda e seu universo, área da qual eu estudava. 
A partir de agora me aventuro a escrever sobre cultura, identidade e sociedade, da mesma maneira como estudante. Pretendo trazer assuntos discutidos em aula, a fim de compartilhar com vocês.



Neste primeiro post trago uma contribuição do autor Roque de Barros Laraia no seu livro intitulado "Cultura: um conceito antropológico"

Na primeira parte de seu livro, Laraia nos esclarece a respeito do determinismo geográfico e biológico.

A respeito do determinismo biológico, erroneamente pensava-se que um indivíduo poderia ser determinado pela sua "raça", indicando assim traços de sua personalidadade, como sendo de origem biológica.
Laraia, nos coloca que: "Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica; que os judeus são avarentos e negociantes; que os norte-americanos são empreendedores e interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses."
Segundo Felix Keesing: "não existe correlação significativa entre a distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado".
De acordo com Laraia: "Em outras palavras, se transportarmos para o Brasil, logo após o seu nascimento, uma criança sueca e a colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal e não se diferenciará mentalmente em nada de seu irmãos de criação."

Sobre o determinismo geográfico, erroneamente pensava-se que  que o local onde o indíviduo se desenvolve o condiciona culturamente.
Laraia, nos traz que: "A partir de 1920, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber, entre outros, refutaram este tipo de determinismo e demonstraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais. E mais: que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico."
Como exemplo disto: "os lapões e os esquimós. Ambos habitam a calota polar norte, os primeiros no norte da Europa e os segundos no norte da América. Vivem, pois, em ambientes geográficos muito semelhantes, caracterizados por um longo e rigoroso inverno. Ambos têm ao seu dispor flora e fauna semelhantes. Era de se esperar, portanto, que encontrassem as mesmas respostas culturais para a sobrevivência em um ambiente hostil. Mas isto não ocorre:
Os esquimós constroem suas casas (iglus) cortando blocos de neve e amontoando-se num formato de colméia. Por dentro a casa é forrada com peles de animais e com o auxílio do fogo conseguem manter o seu interior suficientemente quente. É possível, então, desvencilhar-se das pesadas roupas, enquanto no exterior da casa a temperatura situa-se a muitos graus abaixo de zero grau centígrado. Quando deseja, o esquimó abandona a casa tendo que carregar apenas os seus pertences e vai construir um novo retiro.
Os lapões, por sua vez, vivem em tendas de peles de rena. Quando desejam mudar os seus acampamentos, necessitam realizar um árduo trabalho que se inicia pelo desmonte, pela retirada do gelo que se acumulou sobre as peles, pela secagem das mesmas e o seu transporte para o novo sítio.
Em compensação, os lapões são excelentes criadores de renas, enquanto tradicionalmente os esquimós limitam-se à caça desses mamíferos."

Para finalizar, deixo uma reflexão de Roque Laraia, a respeito desses dois tipos de determinismo, que podem de maneira infundada causar confusões e pré conceitos.

"As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura."

Um abraço,

Carlos Paredes