segunda-feira, 30 de julho de 2012

Determinismo biológico e Determinismo geográfico

Porto Alegre, 30 de Julho de 2012.

Olá!
Anteriormente este espaço estava destinado a moda e seu universo, área da qual eu estudava. 
A partir de agora me aventuro a escrever sobre cultura, identidade e sociedade, da mesma maneira como estudante. Pretendo trazer assuntos discutidos em aula, a fim de compartilhar com vocês.



Neste primeiro post trago uma contribuição do autor Roque de Barros Laraia no seu livro intitulado "Cultura: um conceito antropológico"

Na primeira parte de seu livro, Laraia nos esclarece a respeito do determinismo geográfico e biológico.

A respeito do determinismo biológico, erroneamente pensava-se que um indivíduo poderia ser determinado pela sua "raça", indicando assim traços de sua personalidadade, como sendo de origem biológica.
Laraia, nos coloca que: "Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica; que os judeus são avarentos e negociantes; que os norte-americanos são empreendedores e interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses."
Segundo Felix Keesing: "não existe correlação significativa entre a distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado".
De acordo com Laraia: "Em outras palavras, se transportarmos para o Brasil, logo após o seu nascimento, uma criança sueca e a colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal e não se diferenciará mentalmente em nada de seu irmãos de criação."

Sobre o determinismo geográfico, erroneamente pensava-se que  que o local onde o indíviduo se desenvolve o condiciona culturamente.
Laraia, nos traz que: "A partir de 1920, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber, entre outros, refutaram este tipo de determinismo e demonstraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais. E mais: que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico."
Como exemplo disto: "os lapões e os esquimós. Ambos habitam a calota polar norte, os primeiros no norte da Europa e os segundos no norte da América. Vivem, pois, em ambientes geográficos muito semelhantes, caracterizados por um longo e rigoroso inverno. Ambos têm ao seu dispor flora e fauna semelhantes. Era de se esperar, portanto, que encontrassem as mesmas respostas culturais para a sobrevivência em um ambiente hostil. Mas isto não ocorre:
Os esquimós constroem suas casas (iglus) cortando blocos de neve e amontoando-se num formato de colméia. Por dentro a casa é forrada com peles de animais e com o auxílio do fogo conseguem manter o seu interior suficientemente quente. É possível, então, desvencilhar-se das pesadas roupas, enquanto no exterior da casa a temperatura situa-se a muitos graus abaixo de zero grau centígrado. Quando deseja, o esquimó abandona a casa tendo que carregar apenas os seus pertences e vai construir um novo retiro.
Os lapões, por sua vez, vivem em tendas de peles de rena. Quando desejam mudar os seus acampamentos, necessitam realizar um árduo trabalho que se inicia pelo desmonte, pela retirada do gelo que se acumulou sobre as peles, pela secagem das mesmas e o seu transporte para o novo sítio.
Em compensação, os lapões são excelentes criadores de renas, enquanto tradicionalmente os esquimós limitam-se à caça desses mamíferos."

Para finalizar, deixo uma reflexão de Roque Laraia, a respeito desses dois tipos de determinismo, que podem de maneira infundada causar confusões e pré conceitos.

"As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura."

Um abraço,

Carlos Paredes

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