terça-feira, 31 de julho de 2012

O modo de navegação social: a malandragem e o "jeitinho" Roberto DaMatta

Porto Alegre, 31 de Julho de 2012.

Olá!
Hoje trago um texto escrito na década de 80, pelo antropólogo brasileiro Roberto DaMatta
Ele faz uma reflexão do Brasil e o "jeitinho" de ser do brasileiro, este mecanismo utilizado por nós em nossas relações cotidianas, com o objetivo de obter vantangem e descumprir a lei.
Abaixo reproduzo trechos do capítulo 7 "O modo de navegação social: a malandragem e o "jeitinho"" do seu livro, intitulado "O que faz o Brasil, Brasil?"


 "Entre a desordem carnavalesca, que permite e estimula o excesso, e a ordem, que requer a continência e a disciplina pela obediência estrita às leis, como é que nós, brasileiros, ficamos? Qual a nossa relação e a nossa atitude para com e diante de uma lei universal que teoricamente deve valer para todos? Como procedemos diante da norma geral, se fomos criados numa casa onde, desde a mais tenra idade, aprendemos que há sempre um modo de satisfazer nossas vontades e desejos, mesmo que isso vá de encontro às normas do bom senso e da coletividade em geral?
Num livro que escrevi - Carnavais, malandros e heróis -, lancei  a tese de que o dilema brasileiro residia numa trágica oscilação entre um esqueleto nacional feito de leis universais cujo sujeito era o indivíduo e situações onde cada qual se salvava e se despachava como podia, utilizando para isso o seu sistema de relações pessoais. Haveria assim, nessa colocação, um verdadeiro combate entre leis que devem valer para todos e relações que evidentemente só podem funcionar para quem as tem.
O resultado é um sistema social dividido e até mesmo equilibrado entre duas unidades sociais básicas: o indivíduo (o sujeito das leis universais que modernizam a sociedade) e a pessoa (o sujeito das relações sociais, que conduz ao pólo tradicional do sistema). Entre os dois, o coração dos brasileiros balança. E no meio dos dois, a malandragem, o "jeitinho" e o famoso e antipático "sabe com quem está falando?" seriam modos de enfrentar essas contradições e paradoxos de modo tipicamente brasileiro. Ou seja: fazendo uma mediação também pessoal entre a lei, a situação onde ela deveria aplicar-se e as pessoas nela implicadas, de tal sorte que nada se modifique, apenas ficando a lei um pouco desmoralizada - mas, como ela é insensível e não é gente como nós, todo mundo fica, como se diz, numa boa, e a vida retorna ao seu normal..."
Um abraço,

Carlos Paredes

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Os Bosquímanos

Porto Alegre, 30 de Julho de 2012.

Olá!
Certo dia assisti ao filme “Os Deuses Devem Estar Loucos”, lançado em 1980. O filme falava sobre uma tribo, que habita o deserto Kalahari, no continente africano. Este povo é o que mais se aproxima dos primeiros Homo Sapiens, sendo um povo muito antigo. 
O que mais me chamou atenção foi sua organização social. 
A partir da pesquisa que fiz, descobri que: As sociedades bosquímanas não têm leis, polícias, juízes, patrões nem chefes hereditários. Os indivíduos influentes destacam-se pelas habilidades ou pelo poder de persuasão.


  Os bosquímanos do deserto Kalahari

O Kalahari possui vasta área coberta por areia avermelhada sem afloramento de água em caráter permanente. Porém, o Kalahari não é um deserto verdadeiro. Partes dele recebem mais de 250 mm de chuva mal distribuída anualmente e possuem bastante vegetação. É realmente árido somente no sudoeste (menos de 175 mm de chuva ao ano), fazendo do Kalahari um deserto de fósseis. As temperaturas no verão do Kalahari vão de 20 a 40°C. No inverno, o Kalahari tem um clima seco e frio com geada à noite. As baixas temperaturas do inverno podem ficar abaixo de 0°C. O clima no verão em algumas regiões do Kalahari pode alcançar 50°C (por isso algumas tribos bosquímanas se recolhem nos momentos mais quentes do dia).    
Os bosquímanos são aproximadamente 100 mil. Eles são o povo mais antigo da África Austral, mas são vítimas do racismo das populações negras e brancas locais. Sobrevivem com pouca água. Encontram-na nos tubérculos, nas gotas de orvalho, na fruta. Também enterram ovos de avestruz cheios de água na estação das chuvas para a usar na estação seca. Eles cultivam pequenas hortas ou fazem trabalhos mal pagos em propriedades de brancos. Os que vivem nos subúrbios das cidades sofrem o desemprego, a exploração e o alcoolismo. Muitos abandonaram a própria língua e perderam o sentido para a vida. Eles são um povo de caçadores e coletores nômades. O corpo dos bosquímanos adaptou-se ao deserto. Eles têm grandes pálpebras que os protegem da luz solar. A sua pele alaranjada reflete o calor e, como é ligeiramente enrugada e não tem pêlos, suporta as altas temperaturas. O corpo armazena gordura nas nádegas para as épocas de escassez de alimentos. As veias aquecem o corpo no inverno.
Os antropólogos classificam os bosquímanos como fósseis vivos. O estudo do seu ADN indica que são próximos dos primeiros Homo sapiens. Há quem pense que o seu idioma seja a origem das línguas do mundo. Ele faz parte dos idiomas com clicks e consiste em sons com diferentes estalidos da língua. Não têm registros escritos. Há apenas pinturas rupestres de antílopes, elefantes, dançarinos e caçadores, com mais de 3000 anos.

Organização social

Os bosquímanos vivem em núcleos de 20 a 100 indivíduos. No verão agrupam-se onde há água. Dispersam-se na época das chuvas. É a mulher que decide quando e como se devem mover os acampamentos. Cada família trata da própria comida. As mulheres recolhem frutas, raízes, insetos e animais pequenos, como formigas, gafanhotos, lagartos, tartarugas e sapos. Providenciam a lenha para o fogo. Os homens são caçadores. Usam o arco e a flecha, varas e armadilhas. Depois de atingir o animal, pedem-lhe desculpa. Explicam-lhe que as suas famílias precisam de carne. Se perseguem um animal ferido em territórios vizinhos, devem visitar quem lá vive e partilhar com eles da caça. Aproveitam tudo do animal: comem a carne e bebem o sangue. Com a pele fazem a roupa. Com os ossos constroem flechas e lanças. As sociedades bosquímanas não têm leis, polícias, juízes, patrões nem chefes hereditários. Os indivíduos influentes destacam-se pelas habilidades ou pelo poder de persuasão. A regra principal é a solidariedade. Todos cuidam das crianças, dos idosos e dos doentes. Os conflitos resolvem-se com um torneio de anedotas. Se não for suficiente, passa-se a uma luta ou dança ritual. É raro recorrerem às armas. Apreciam a música, o canto e as danças rituais e de diversão. A dança do fogo e a do antílope são as mais espetaculares. Enterram os mortos em posição fetal. Deixam junto do cadáver os bens dele. Permanecem longe da sepultura durante um ou dois anos.

A família

As mães combinam os casamentos quando os filhos ainda são crianças. A mãe da noiva é que decide se o noivo é apropriado. Este vai morar na casa da família dela para provar as suas aptidões; sobretudo que é bom caçador. Enquanto o compromisso durar, as famílias trocam presentes. A partir do casamento, o casal passa a viver com a família dele. A mulher que não quiser permanecer com o marido pode regressar a casa dos pais e casar de novo.
O primeiro filho nasce quando a jovem faz 20 anos. Os seguintes nascem de quatro em quatro anos. Como não têm gado doméstico de onde tirar leite, a mãe amamenta os filhos até aos dois ou três anos.

Religião

A divindade suprema dos Bosquímanos é Gamab, deus do céu e do destino. Ele dispara flechas contra os mortais, tirando-lhes a vida. Tsui’goab é o deus da magia, da chuva e do trovão. Gunab é um deus maligno.
O culto é dirigido pelos xamãs curandeiros. Eles crêem que os antepassados provocam as doenças, para que os vivos os acompanhem na outra vida. 

Um abraço,
Carlos Paredes

Sociedade de Consumidores


Porto Alegre, 30 de Julho de 2012.

Olá!
Trago um texto produzido por mim, em sala de aula, sobre a sociedade de consumidores, através do livro de Bauman, intitulado "Vida para Consumo"
Neste pequeno trabalho faço uma reflexão sobre a transformação do indivíduo em mercadoria, sobre a diferença entre o indivíduo enquanto consumidor e produtor. 
Além, da vida exaustiva e monótoma a qual o trabalhador, pertencente a sociedade de produtores, que sustenta essa estrutura produtiva é submetido.




Vida para Consumo
A transformação das pessoas em mercadorias

Zygmunt Bauman

Sociedade de consumidores

A cultura consumista se dá através de uma sociedade moderna de produtores, que gradualmente foi se transformando numa sociedade de consumidores. Nesse processo de organização social, os indivíduos se tornam ao mesmo tempo agentes e também suas mercadorias. A sociedade de consumidores tem por objetivo abraçar a cultura consumista, ceder ao seu apelo, que é feito de maneira constante, atingindo classes e faixas etárias distintas. Esta sociedade, encoraja e reforça a escolha de um estilo de vida focado no consumo, em que o espírito toda a vida do indivíduo, desde a sua infância é “treinado” de maneira individual, ajustando este comportamento para “viver” em seu habitat natural, que nesta lógica é caracterizado pelos shoppings centers local onde as mercadorias, os desejos pessoais de cada pessoa pode ser encontrado. Suas necessidades serão satisfeitas, estes espaços existem com esta finalidade.
             
O ser consumista está baseado numa vocação, em desempenhos individuais. O mercado o bombardeia de todos os lados oferecendo inúmeras sugestões, a fim de que este se equipe com os produtos oferecidos para manter uma posição social e garantir a auto-estima, disto dependem a maneira como ele vai se colocar nesta sociedade consumista, de maneira eficiente ou deficiente. O ser eficiente neste tipo de sociedade é aquele que está apto, que é capaz de consumir na escala que este mercado produz, o que atende ao apelo, que dispõe de recursos financeiros. O ineficiente, ou como Bauman coloca são os “consumidores falhos”, ou seja aqueles que estão excluídos, porque não atendem aos requisitos básicos para este mercado, aqueles que não possuem situação financeira capaz de lhes garantir um lugar neste sistema.
             
Para que a sociedade de consumidores se mantenha é necessário que haja trabalhadores capazes de suprir esta demanda, daí temos a sociedade de produtores.  Esta sociedade é composta de trabalhadores que precisam estar em conformidade com regras, obedecer às ordens, sua postura deve ser de total submissão, sem que este indivíduo faça questionamentos. Ele deve se submeter a uma rotina pesada e monótoma de trabalho. Como foi colocado pelo autor, na sociedade de consumidores o que é levado em conta é o espírito, enquanto que na sociedade de produtores é o corpo este é o potencial do trabalhador. Aqui suas emoções, ou seja, seu espírito, deve ser silenciado. O habitat natural deste trabalhador é o chão de fábrica, que pode ser entendido como campo de batalha.

Um abraço,

Carlos Paredes  

Determinismo biológico e Determinismo geográfico

Porto Alegre, 30 de Julho de 2012.

Olá!
Anteriormente este espaço estava destinado a moda e seu universo, área da qual eu estudava. 
A partir de agora me aventuro a escrever sobre cultura, identidade e sociedade, da mesma maneira como estudante. Pretendo trazer assuntos discutidos em aula, a fim de compartilhar com vocês.



Neste primeiro post trago uma contribuição do autor Roque de Barros Laraia no seu livro intitulado "Cultura: um conceito antropológico"

Na primeira parte de seu livro, Laraia nos esclarece a respeito do determinismo geográfico e biológico.

A respeito do determinismo biológico, erroneamente pensava-se que um indivíduo poderia ser determinado pela sua "raça", indicando assim traços de sua personalidadade, como sendo de origem biológica.
Laraia, nos coloca que: "Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica; que os judeus são avarentos e negociantes; que os norte-americanos são empreendedores e interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses."
Segundo Felix Keesing: "não existe correlação significativa entre a distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado".
De acordo com Laraia: "Em outras palavras, se transportarmos para o Brasil, logo após o seu nascimento, uma criança sueca e a colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal e não se diferenciará mentalmente em nada de seu irmãos de criação."

Sobre o determinismo geográfico, erroneamente pensava-se que  que o local onde o indíviduo se desenvolve o condiciona culturamente.
Laraia, nos traz que: "A partir de 1920, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber, entre outros, refutaram este tipo de determinismo e demonstraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais. E mais: que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico."
Como exemplo disto: "os lapões e os esquimós. Ambos habitam a calota polar norte, os primeiros no norte da Europa e os segundos no norte da América. Vivem, pois, em ambientes geográficos muito semelhantes, caracterizados por um longo e rigoroso inverno. Ambos têm ao seu dispor flora e fauna semelhantes. Era de se esperar, portanto, que encontrassem as mesmas respostas culturais para a sobrevivência em um ambiente hostil. Mas isto não ocorre:
Os esquimós constroem suas casas (iglus) cortando blocos de neve e amontoando-se num formato de colméia. Por dentro a casa é forrada com peles de animais e com o auxílio do fogo conseguem manter o seu interior suficientemente quente. É possível, então, desvencilhar-se das pesadas roupas, enquanto no exterior da casa a temperatura situa-se a muitos graus abaixo de zero grau centígrado. Quando deseja, o esquimó abandona a casa tendo que carregar apenas os seus pertences e vai construir um novo retiro.
Os lapões, por sua vez, vivem em tendas de peles de rena. Quando desejam mudar os seus acampamentos, necessitam realizar um árduo trabalho que se inicia pelo desmonte, pela retirada do gelo que se acumulou sobre as peles, pela secagem das mesmas e o seu transporte para o novo sítio.
Em compensação, os lapões são excelentes criadores de renas, enquanto tradicionalmente os esquimós limitam-se à caça desses mamíferos."

Para finalizar, deixo uma reflexão de Roque Laraia, a respeito desses dois tipos de determinismo, que podem de maneira infundada causar confusões e pré conceitos.

"As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura."

Um abraço,

Carlos Paredes